querer, queria, mas...

quem não queria um ano melhor?

sem tanto trabalho precário, como é o meu caso.

não que me incomode esta inconstância de emprego, sempre se pode ir mudando de ares e ganhando mais umas coroas, aqui e ali.

o que me incomoda é querer comprar casa e o banco pedir-me um fiador, daqueles com um bom passado e uma boa conta.

filhos? nem quero pensar nisso. se o meu ordenado mal dá para me aguentar à bronca, sem ficar a dever a renda ou a água e a luz...

esperança vamos tendo, falta o resto...

ao telefone com... (um)

- irrita-me passar o ano com chuva.
- podias ter vindo passar o natal connosco e só viajavas em 2010.
- podia...
- pois podias.
- sabes que detesto aeroportos nesta época. prometi a mim mesmo, nunca mais viajar para sitio nenhum, depois de 2o de Dezembro. e também não pertenço ao bando de desocupados que viajam quando lhes apetece. em lisboa chove muita água e quase nenhum dinheiro.
- isso não era problema. nós pagávamos uma das passagens.
- mãe, já sou um gajo grande.
- para mim não, és sempre o meu menino.
- olha, um bom ano de 2010 para todos, beijinhos para ti, para o pai e para a mana.

chove lá fora e cá dentro

não vou ler as tuas palavras ou bonecos, nem mesmo no vidro embaciado.

vou passar ao largo de ti.
o corpo pesa-me. talvez hoje seja um daqueles dias que tenho oitenta anos...

o meu corpo

é este o meu corpo...

o meu riso

é este, o meu riso...